Os vinhos borgonheses costumam ter um status mais cult em relação aos suntuosos vinhos de Bordeaux. Para alguns, a Borgonha é o que há de mais sagrado quando se fala da combinação “Terroir” + “Uva”. Mas a impressão que eu tenho é que os Borgonhas são como aqueles filmes clássicos e complicados. Todo mundo que quer parecer inteligente diz gostar, mas apenas poucos realmente os entendem.E eu não sou um deles! Confesso que ainda não consegui vislumbrar mais do que um borrão da alma da Borgonha. É lógico que eu tomei pouquíssimos Borgonhas na vida. Dá para contar nos dedos das mãos... E nunca tomei um grande Borgonha. Eles são caros, muito caros. Principalmente aqui no Brasil. E, se a própria ‘Master of Wine’ Jancis Robinson, em seu livro “Confissões de uma amante dos vinhos”, afirma que comprar borgonhas é como brincar de roleta russa, quem sou eu para pensar o contrário.
A questão se resume assim: Todo bom Borgonha é caro, mas apenas uma minoria vale o seu preço. Isso é sinônimo de frustração. Nesse momento da minha vida, não estou disposto a ficar arriscando R$ 200 – R$ 300 (pra começo de brincadeira) procurando os vinhos que valem a pena. Não dá. Só para deixar claro, essa questão da defasagem entre preço e prazer não é exclusiva da Borgonha, vide os Brunellos da vida, para dar apenas um exemplo, mas há milhares de outros...

No momento em que escrevo esse texto estou tomando um Chassagne-Montrachet 2003, do produtor Albert Bichot. Esse já é o terceiro vinho que eu bebo desse produtor. Nenhum me empolgou. Inclusive um dos vinhos que eu tomei, um Santenay 2002, foi comprado em Paris, por indicação de um vendedor que me pareceu bastante simpático e preocupado em achar o melhor vinho que se encaixasse no meu orçamento.
É um vinho interessante? Com certeza! É um vinho elegante e equilibrado? Lógico! Mas qual o problema então? A questão é que é um vinho que não empolga. Só isso. Ele tem essa caráter austero, com taninos bem presentes. Mas no nariz é um tanto decepcionante. Eu tive que me focar e prestar bastante atenção para identificar alguma coisa nele. Por traz de uma camada de aromas secundários que remetem ao animal ou herbáceo talvez, ele tem uma fruta bem negra... lá no fundo. É gostoso. E isso eu estou sentindo agora, de noite, tomando o resto da garrafa que sobrou do almoço. Por que quando foi aberto estava muito mais fechado.
O site da Expand afirma que este vinho custa R$ 170,00. Se eu for pensar na infinitude de vinhos que por esse preço me levam por um passeio pelas estrelas, dá para começar a entender a minha insatisfação, não é? Com certeza consigo gastar menos e beber um belo de Pinot Noir da Nova Zelândia, com uvas cultivadas pelo próprio produtor e vinificado com todo o carinho do mundo.
É lógico que Borgonha é Borgonha e Pinot Noir da Nova Zelândia é outra coisa, mas vai me dar mais prazer e ponto!
É tudo uma questão de expectativas. Se alguém me desse esse mesmo vinho para eu beber dizendo se tratar de um Pinot Noir chileno que custa R$ 40,00. Eu certamente teria ficado muito satisfeito e empolgado para comprar algumas garrafas dele...
Para complicar mais a situação tem as diferenças entre as safras. Uma tabela simples que eu tenho, que põe todos os Borgonhas tintos sob uma mesma pontuação, diz que a Safra de 2003 foi boa. Mas e esse vinho especificamente? Eu abri a garrafa na data certa? Deveria ter aberto antes? Só poderia responder isso se eu tivesse comprado uma caixa dele e abrir uma garrafa a cada ano... E gastar R$ 1000 numa caixa de vinho para no futuro poder dizer que eu entendi UM dos vinhos de UM dos produtores da Borgonha certamente é brincar de algum tipo de roleta-russa monetária.
Apesar de tudo, o site da Albert Bichot é bem instrutivo com mapas interativos da Borgonha e suas vilas. Porém ele é feito para quem tem conexões de internet padrão Japonês, mas vale a espera.
http://www.bourgogne-bichot.com
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